Relogio

quarta-feira, 28 de julho de 2010

LUIZ GONZAGA É O ARTISTA MAIS TOCADO NAS FESTAS JUNINAS

Morto há quase 21 anos, o rei do baião ainda domina imaginário festivo do Brasil


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     “Ontem eu sonhei que estava em Moscou/ dançando pagode russo na boate cossaco/ vem cá, cossaco, cossaco dança agora/ na dança do cossaco não fica cossaco fora.” Esses versos, popularizados há 26 anos, quando a expressão “Guerra Fria” ainda fazia algum sentido, foram os mais cantados nas festas juninas brasileiras do ano passado. A posição do "Pagode Russo" no ranking produzido pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) não esclarece nada sobre geopolítica, mas deixa evidente a força perene do pernambucano Luiz Gonzaga, morto há quase 21 anos, no imaginário festivo do Brasil. 

     O mesmo relatório revela a presença do mais importante criador do forró na autoria de quatro dos dez temas mais tocados em espaços públicos nos festejos juninos de 2009. A explicitamente junina "Olha pro Céu" aparece na segunda colocação. O hino nordestino tristíssimo "Asa Branca" ocupa o oitavo lugar. E "O Xote das Meninas", aquele dos versos “ela só quer, só pensa em namorar”, ocupa a nona posição. O Ecad, que não revela valores arrecadados, obtém tais resultados por meio de amostragens das músicas tocadas em eventos juninos que recolheram pagamentos. As amostras são obtidas por gravações feitas pelos funcionários do escritório ou por listas fornecidas pelos organizadores dos eventos.
    Examinados os relatórios dos últimos cinco anos, constata-se que não só Gonzagão, mas uma galeria respeitável de nomes do passado musical nacional continua dando as cartas numa das mais tradicionais festividades populares do país. É constante a presença de gente como o baiano Assis Valente ("Cai, Cai, Balão", segundo lugar de 2007), os cariocas Lamartine Babo ("Chegou a Hora da Fogueira" e "Isto é Lá com Santo Antônio", respectivamente sétimo e décimo em 2008), Haroldo Lobo ("O Sanfoneiro Só Tocava Isso", sexto em 2009), Braguinha e Alberto Ribeiro (parceiros em "Capelinha de Melão", oitavo em 2006) e o fluminense Benedito Lacerda ("Antônio, Pedro e João", segundo em 2006).
    Do imaginário mais próximo à chamada música caipira, comparecem nomes como o paulista nascido italiano Mário Zan ("Festa na Roça", segundo lugar em 2005) e o paulista Tonico ("Moreninha Linda", nona colocação no mesmo ano).
    Todos os autores citados acima estão mortos, e os direitos arrecadados pelo Ecad destinam-se a seus espólios. Mas isso não significa que a música junina seja uma modalidade congelada no tempo. O próprio "Pagode Russo", por exemplo, mantém-se no topo não só pela assinatura de Luiz Gonzaga, como também por ter sido regravado, na década de 90, pelo grupo cearense de forró modernizado Mastruz com Leite. Conservam-se as canções, mas perderam-se no tempo as gravações hoje antiquadas e as vozes intérpretes clássicas de Emilinha Borba (cantora de "Capelinha de Melão" nos anos 40) ou Carmen Miranda e Mário Reis (que gravaram "Chegou a Hora da Fogueira" em duo no longínquo 1933).
     E há, por fim, a parcela de música contemporânea frequentando com destaque as relações das mais executadas. Em quarto lugar no ano passado ficou um dos maiores sucessos populares brasileiros dos últimos anos, "Você Não Vale Nada", dos versos “você não vale nada, mas eu gosto de você/ tudo que eu queria era saber por quê”. O autor é o potiguar de 39 anos Dorgival Dantas, que formou a Banda Pirata no Ceará, nos anos 90, e se lançou em carreira solo na década seguinte.
     Outro representante do forró contemporâneo com presença constante nas listas é o pernambucano Targino Gondim, de 37 anos, graças à projeção nacional alcançada após ter sua "Esperando na Janela" incluída no filme Eu Tu Eles (2000). A voz que popularizou os versos “por isso eu vou na casa dela, ai, ai/ falar do meu amor pra ela, vai/ tá me esperando na janela, ai, ai/ não sei se vou me segurar” foi a do baiano Gilberto Gil, que desde então tem revisto suas origens forrozeiras regravando canções de Luiz Gonzaga e acaba de lançar o álbum Fé na Festa, feito predominantemente de canções juninas inéditas. Em 2009, quem garantiu o décimo lugar no ranking a Esperando na Janela não foi a gravação de Gil, mas uma nova versão da música de Targino, sob responsabilidade do padre Antônio Maria.
     Um outro ranking do Ecad mostra mais sobre o peso da tradição nas festas juninas. É a lista de autores que mais arrecadaram com temas juninos, somadas todas as canções de cada um. Aparecem quatro compositores atualmente em atividade: Tato, do grupo Falamansa (em segundo lugar), Dorgival Dantas (terceiro), Victor Chaves, da dupla Victor & Léo (sexto), e Antônio Barros (nono), autor do forró Homem com H, popular nos anos 80 na voz de Ney Matogrosso. As demais posições são ocupadas por Lamartine Babo (quarto lugar), Mário Zan (sétimo), Alberto Ribeiro (oitavo), Antônio Barros e dois parceiros de Luiz Gonzagão, Zé Dantas (quinto lugar) e João Silva (décimo). Gonzagão, evidentemente, é campeão também nesse quesito.
    Veja abaixo a lista de músicas mais tocadas nas festas juninas:
1. "Pagode Russo", de Luiz Gonzaga e João Silva
2. "Olha pro Céu", de Luiz Gonzaga e José Fernandes
3. "Quadrilha Brasileira", de Gerson Filho e José Maria de Aguiar Filho
4. "Você Não Vale Nada", de Dorgival Dantas
5. "Cai, Cai, Balão", de Assis Valente
6. "O Sanfoneiro Só Tocava Isso", de Haroldo Lobo e Geraldo Medeiros
7. "Pula a Fogueira", de João Bastos Filho e Amor
8. "Asa Branca", de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
9. "O Xote das Meninas", de Luiz Gonzaga e Zé Dantas
10. "Esperando na Janela", de Targino Gondim, Raimundinho do Acordeon e Manuca Almeida 

Fonte: www.luizluagonzaga.mus.br

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